Blog de Opinião de HENRIQUE DIAS PEDRO; Normalmente às 3ªs. feiras
Terça-feira, 17 de Julho de 2007
A Lenta Queda dos Mitos

Este artigo foi publicado pela primeira vez em 23 de Janeiro de 2006, após as eleições presidenciais, no blogue “O Tripé”.

Recentemente O Tripé passou a Fabulário.

Descontadas algumas situações de pormenor, e até algumas desilusões políticas de circunstancia, considero valer a pena repor no conhecimento público coisas de que convém não nos esquecermos.

Assim republica-se agora na íntegra em “A Muralha”.

 

A Lenta Queda dos Mitos

 

De vez em quando este País dá indícios de ser uma Nação moderna e desinibida.

Afinal caiu o mito de que o nosso Presidente da República "só pode" ser de esquerda.

A bem de uma verdadeira democracia os portugueses acabam de escolher para Presidente um homem que não tem tiques de revolucionário angustiado nem se orgulha de ter no currículo uns tantos anos de prisioneiro político.

Quando toca a rebate e a crise aperta, este povo manda às malvas o mofo das ideologias e escolhe quem entende estar melhor preparado para enfrentar e resolver os problemas.

Que falta de respeito por uma figura histórica chamada Mário Soares, que cedeu à pressão de ocultos poderes para aceitar fazer tão triste figura.

Não!!!

Ele candidatou-se por vontade própria só porque é, e sempre foi, anti-Cavaco.

Claro...

Então não foi isso?

Se calhar até foi porque, se alguma cultura política demonstrou ter ao longo da campanha foi a cultura da insolencia, da grosseria, da má educação.

A começar pelo papão de que a vitória de Cavaco Silva iria trazer instabilidade, e a acabar naquela inqualificável atitude de o classificar como "razoàvel" economista.

O povo português disse-lhe, a ele (antigo pretensioso pai da pátria) que ele já não é sequer um razoàvel candidato.

Estes senhores da nossa bolorenta esquerda têm memória curta e esqueceram-se de que há 10 anos, quando Cavaco foi derrotado por Jorge Sampaio, obteve apesar de tudo 46% dos votos. E nessa altura um senhor chamado Garcia Pereira comentou o seguinte, referindo-se a Cavaco: "o povo português mandou-o definitivamente para Boliqueime. Boa viagem!" Ao fim de 10 anos tão ilustre comentador, que tem sido também repetidamente candidato, não passou dos 0,4% dos votos.

Faz lembrar aquela história do indivíduo que comprava simultaneamente preservativos e comprimidos para o enjoo.

Aplica-se aqui a pergunta do farmaceutico:

-Mas se enjoa (perde) tanto porque é que insiste?

Claro que milagres em política...

A razão clara e inequívoca porque Cavaco Silva chega a Presidente da República é simples:

O povo português gosta de votar em gente séria, competente, decidida. E quando se engana corrige o erro na oportunidade seguinte. Não é que se queira ver agora o novo Presidente a dissolver a Assembleia da República "por dá cá aquela palha" como fez o presidente que está em fim de mandato e que é tido por um democrata respeitador da Constituição.

Não!

José Sócrates prometeu-nos a recuperação, e tem de provar que é capaz de a conseguir. Curioso o facto de passar a ter de entender-se com alguém que, melhor que qualquer outro, poderá ajudá-lo a concretizar tal objectivo.

Bem sabemos que vai ter provàvelmente de passar algumas complicações dentro do seu próprio partido porque, ou muito nos enganamos, ou Manuel Alegre não vai ficar quieto com aquilo que conseguiu nestas eleições.

Mas isso, por agora, são contas de outro rosário.

Ressalte-se apenas o facto de que Manuel Alegre conseguiu provar que o povo não é tolo nem tele-comandado e que ele próprio, Alegre, é também um "vencedor" do ponto de vista cívico e moral.

Cabe-lhe na minha opinião o grande mérito de demonstrar que se pode ser sério e íntegro na defesa das nossas idéias, e ganhar espaço de intervenção política sem ter de se tornar servil aos pretensos donos da pátria, nem usar de demagogia e insolencia no desenvolvimento de uma campanha.

Tenhamos, porém, cuidado...

A esperança tem de ser comedida porque a tarefa não é fácil e o País não navega em águas calmas.

Cavaco Silva conseguiu ainda assim fazer renascer a crença que Portugal é viável, e as lágrimas de alegria que se viram em alguns dos seus anónimos apoiantes traduzem exactamente esse sentimento de patriotismo saudável que permite acreditar não estar o País inevitàvelmente entregue ao destino de um esquerdismo serôdio e doentio.

Viva Portugal!

 

Henrique Dias Pedro

 



publicado por H.Dias Pedro hdp às 00:03
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